terça-feira, 24 de abril de 2012

VIDA & MEMÓRIA


No filme "Blade Runner", o que diferenciava o ser humano do andróide era o passado, a memória de ter vivido uma infância, por exemplo.


Questionado sobre a imortalidade, Freud destacou, indiretamente, a importância da memória:


"A vida, movendo-se em círculos, ainda seria a mesma. (...) que utilidade isso poderia ter sem a memória? Não haveria ligação entre o passado e o futuro." (A arte da entrevista, p. 91)


Sem a memória, o ser humano torna-se raso. Ele vira, por exemplo, uma espécie de planta que decora uma sala - ela está ali mas não faz diferença.



Esquecer o passado é uma forma de fuga. Esquecer o conteúdo de um sonho é outra forma de censura:



"(...) o esquecimento dos sonhos é tendencioso e serve aos propósitos da resistência." (Freud, A interpretação dos sonhos, p. 501)


Em suma, esquecer é uma maneira de fugir do passado e do sonho. Por quê? Medo de si. Trata-se de uma fuga da auto-crítica. 


O problema é que apagar a memória é uma forma de não existir. Se, por exemplo, houve uma vida antes desta (ou não) perde a importância por causa da memória. O mesmo processo ocorre com o futuro: existe vida depois da morte? Pode existir ou não... mas resolveria o quê se a pessoa chega nessa "vida futura" sem a memória da vida atual? (É o provável na medida em que o indivíduo chega na vida atual sem a memória de uma outra vida antes dessa.)


Não adianta lembrar algo sem ter a capacidade de interpretá-lo. Isso significa fazer perguntas: por que a pessoa escolheu pensar em tal fato do passado? O que significa sonhar algo para a vida atual? 


Problematizar o passado ajuda o indivíduo a não cometer os mesmos erros. Quanto ao sonho, de uma forma bastante distorcida, ele pode revelar aquilo que o escudo racional não quer admitir para a própria pessoa.

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